Pesca esportiva: lazer e sustentabilidade
- majutavares
- 6 de mai. de 2021
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A pesca esportiva é considerada um processo evolutivo da pesca amadora, superando a esfera do lazer e originando pescadores com consciência ambiental [1]. Em outros termos, falar em pesca esportiva sem a preservação do ecossistema é como imaginar Futebol sem a bola, Fórmula 1 sem carros ou, em uma analogia próxima, hipismo sem cuidados com os cavalos. Para a prática da pesca esportiva, é indispensável que o peixe esteja saudável e que viva em um ambiente ecologicamente equilibrado. Se o pescador causa um distúrbio no meio ambiente, logo ele não é considerado um pescador esportivo e é por este e outros motivos que a pesca esportiva não se resume apenas ao pesque-e-solte. A modalidade do pesque-e-solte, a mais praticada na pesca esportiva, é caracterizada por um conjunto de fatores que tem por objetivo a preservação tanto do peixe, quanto do ecossistema como um todo [2].
As ideias e concepções do esporte seguem os princípios do desenvolvimento sustentável que, em linhas gerais, levando-se em consideração o documento "Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável" realizado em setembro de 2015 pelos países-membro das Nações Unidas, pode ser resumido aos “5 P’s”: Pessoas, Prosperidade, Paz, Parcerias e Planeta [2;4].
A pesca esportiva traz uma alternativa para as populações ribeirinhas, as quais podem trabalhar com o turismo de pesca, seja como guia de pesca, guia de turismo, produtor de iscas naturais, entre outras opções. É claro que o conceito de “pessoas” para o desenvolvimento sustentável é muito mais amplo e contempla a erradicação da pobreza, da fome e a garantia de dignidade e igualdade. No entanto, a pesca esportiva, mesmo que minimamente, pode contribuir para melhor a vida das pessoas e, também, possibilitar meios que promovam a inclusão social e a convivência harmoniosa entre indivíduos de classe social e cultura distintos [2].
Um outro exemplo que se enquadra dentro das categorias de “paz e parceria” é a cooperação entre o turismo da pesca e os povos tradicionais. Em determinadas áreas, há conflitos violentos entre as comunidades dos povos tradicionais e sujeitos de fora que praticam a pesca predatória, que muitas vezes é realizada em território de reserva ambiental. A pesca esportiva surgiu como uma alternativa para amenizar esses conflitos e, apesar de não ser permitido qualquer modalidade de pesca em território de reservas ambientais, há uma notável parceria entre as operações de pesca e os povos tradicionais, resultando em projetos com pousadas de pesca que são frequentemente fiscalizadas por ONGs – Organizações não Governamentais, e órgãos ambientais que garantem a proteção dos peixes, do meio ambiente e das comunidades que vivem entorno dos rios. Em conjunto com as iniciativas de promoção de paz, o turismo de pesca esportiva ainda traz função social, onde os povos tradicionais recebem assistência médica e odontológica [2].
A prosperidade também se faz presente dentro do universo da pesca esportiva, a qual possibilita a criação de um mercado que fornece insumos, náutica, vestuário e todos os utensílios de pesca necessários para as atividades esportivas [2]. Além da movimentação econômica que gera impacto direto em toda a cadeia social, ainda há uma preocupação em produzir produtos que adotem a sustentabilidade. Os produtos utilizados na pesca esportiva podem ser produzidos com materiais recicláveis e biodegradáveis e de baixa toxicidade para a biota. Assim como em outros segmentos do mercado, que estão repensando os seus meios de produção a fim de gerar satisfação para os seus consumidores cada vez mais exigentes quanto as práticas ecologicamente corretas, o setor da pesca esportiva também tem se movimentado neste quesito. A técnica de fabricação de iscas artificiais, amplamente utilizada por pescadores esportivos, vem se modificando a fim de se utilizar poliuretano vegetal, que possibilita a fabricação de um produto de maior biodegradabilidade em comparação às iscas fabricadas com polímeros minerais não-renováveis [3].
Embora a modalidade de pesca esportiva ter sido amplamente difundida no Brasil, por muito tempo esbarrou-se em um problema que ainda prejudicava a sustentabilidade do esporte: o pouco acesso às informações técnicas sobre os processos adequados relacionados ao manuseio e soltura dos peixes. A necessidade de criação dessas técnicas levou o Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros Continentais – CEPTA do IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais, com apoio do PNDPA – Programa Nacional de Desenvolvimento da Pesca Amadora, a realizar pesquisas na área da pesca esportiva. Destas pesquisas originaram trabalhos que consideraram os efeitos dessas práticas nas funções vitais e na integridade física dos peixes, onde foram obtidos resultados extremamente satisfatórios. Paralelamente a estes estudos, foi desenvolvido pelo IBAMA, com a coordenação da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, em 2006, um manual com as normas técnicas que os pescadores esportivos devem praticar visando a proteção dos peixes [1].
O primeiro aspecto que o pescador esportivo deve considerar é o planejamento e organização de sua prática, onde deve adquirir a licença de pesca esportiva junto ao Ministério de Pesca. Além disso, há a necessidade de se respeitar decretos, período de defeso e piracema (época de reprodução dos peixes), portarias e leis relacionadas à pesca e ao meio ambiente, sendo que cada unidade da federação pode possuir as suas especificidades e punições [1].
Quanto aos procedimentos práticos da pesca esportiva, é indispensável que o pescador esportivo tome ciência sobre as características da espécie a ser capturada, pois a garantia de sobrevivência do animal está diretamente associada às condições de devolução do exemplar para a água. A utilização do anzol sem farpa é requisito obrigatório para a pesca esportiva e, além disso, o pescador deve tomar todos os cuidados necessários com o manuseio do peixe, que deve ser realizado com alicates de contenção adequados e, se possível, deve-se permanecer o menor tempo com o peixe em mãos, assim evitando a retirada de sua camada mucosa, a qual é responsável pelo mecanismo de defesa do animal contra fungos e bactérias. A retirado do anzol do peixe deve ser realizada, de preferência, dentro da água e, caso seja necessária a sua retirada da água, o tempo de exposição fora dela deve ser o menor possível [1].
A fim de se reduzir o estresse do peixe na modalidade de pesca esportiva, deve-se utilizar equipamentos de pesca compatíveis e equilibrados para a espécie almejada. Segurar o peixe pelas guelras (brânquias) ou pelo rabo prejudica a sua integridade física e, portanto, o peixe deve ser segurado apoiando-se as mãos sobre a parte inferior de seu corpo e mantendo o exemplar sempre na posição horizontal. A devolução deve ser realizada de maneira suave e sem atirar o peixe contra o espelho d’água. Neste manual do IBAMA há essas e outras recomendações que todo pescador esportivo deve seguir [1].
Apenas manter o peixe vivo não é suficiente para a manutenção do esporte, pois o peixe não existe isolado do todo, isto é, ele faz parte de um ecossistema, de um bioma, que se não for preservado, haverá perda na qualidade dos compartimentos ambientais envolvidos na pesca esportiva e, assim, prejudicando o grande astro do esporte, que são os peixes. Por este motivo que a modalidade do pesque-e-solte deve ser cada vez mais difundida como um meio de proteção da natureza e dos animais, encarando-a como uma ferramenta que promova estritamente o desenvolvimento sustentável de modo a garantir uma atividade extremamente prazerosa para seus praticantes que, ano a ano, vem aumentando significantemente ao redor do globo [2].
Por Pedro de Nascimento Gonçalves
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] CECCARELLI, Paulo Sérgio et al. Pesque-e-solte: informações gerais e procedimentos práticos. 2006.
[2] NETTO, Victória. Pesca esportiva: qual o papel para o desenvolvimento sustentável. FISH TV, 2020. Disponível em < https://www.fishtv.com/noticias/meio-ambiente/pesca-esportiva-qual-o-papel-para-o-desenvolvimento-sustentavel>
[3] DANTAS, Diogo Sandoval. Isca artificial bio-sustentável. 2012.
[4] LOURENÇO SOLUTIONS - MOVIMENTO ODS. Os 5P's da Sustentabilidade. MOVIMENTO ODS ORG. Disponível em < https://sc.movimentoods.org.br/os-5ps-da-sustentabilidade>

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