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Educação ambiental nas periferias

  • majutavares
  • 5 de fev. de 2021
  • 4 min de leitura

No mundo todo, as cidades estão buscando maneiras de se adaptar às mudanças climáticas e minimizar seus impactos adotando estruturas mais resilientes e integradas ao meio ambiente. No entanto, ao mesmo tempo em que as cidades caminham para atualizar seu planejamento e infraestrutura, a periferia ainda sofre com a falta dessa mesma infraestrutura que hoje já não garante o futuro das cidades.

Além de já sofrerem com o abandono histórico, os moradores das favelas e periferias agora fazem parte da população urbana mais vulnerável às consequências negativas da crise climática. Como levar as questões de sustentabilidade, relativamentes mais recentes, para os lugares carentes do básico?


Felizmente, sustentabilidade e educação ambiental vão de encontro das necessidades da periferia. A educação ambiental na periferia tem a importante missão de, em primeiro lugar, buscar soluções em conjunto para lidar com problemas presentes há muitos anos, e, em segundo lugar, pensar estratégias que envolvam tanto o espaço quanto a comunidade das favelas para lidar com as situações futuras.

A favela tem o potencial de ser protagonista de uma transição sustentável através da gestão comunitária de seu espaço, sem ter que esperar por soluções prontas ou de fora pra dentro. Para colocar em evidência seus problemas e vulnerabilidades, é necessário trazer os moradores para o centro do debate da sustentabilidade e mudanças climáticas, dentro de seu contexto e à luz dos impactos que tais mudanças trarão para suas vidas, ajudando-os a perceber o que pode ser mudado ou melhorado. A partir disso, encorajá-los a propor soluções e alternativas de adaptação que tenham a ver com a sua realidade e seu espaço, para que eles possam se tornar protagonistas dessas mudanças, criando um senso ainda maior de comunidade.

Há inúmeros exemplos de iniciativas de moradores que resolvem agir ao invés de esperar pela boa vontade política, e com a questão ambiental não deveria ser diferente. Claro que prover infraestrutura de grande escala é responsabilidade do poder público, como o sistema de saneamento básico, mas isso não impede a existência de ações complementares para lidar com os problemas locais, ao contrário, deve incentivá-las. Aqui não é preciso inventar a roda: ações simples, como rodas de conversa e mutirões, podem ser um bom início para já ir movimentando a comunidade. Abordagens adaptadas de outras estratégias, como o lixo-zero, para reduzir o lixo doméstico, podem oferecer outras perspectivas: fazer um exercício de “monitoramento do lixo” com uma turma de escola, por exemplo, na qual cada um ficaria de olho no que vai pro lixo em sua casa durante uma semana.

Se, por um lado, a diminuição da geração de lixo pela classe média ajuda a não sobrecarregar os aterros sanitários, na favela, por outro lado, além desse benefício, o conceito “lixo-zero” ajudaria a eliminar os lixões que existem lá dentro. O boicote ao consumo de determinados produtos e materiais prejudiciais ao meio ambiente, como o plástico descartável, encontra na favela um grande número de pessoas que, ao serem incluídas nesse movimento, ajudam a aumentar a pressão sobre governo e fabricantes para que encontrem soluções mais ambientalmente amigáveis e seguras.


Num momento em que as mudanças de hábitos pessoais fazem parte da estratégia rumo a um futuro sustentável, seria um erro deixar a periferia de fora, já que tais mudanças gerariam um impacto positivo visível na realidade dos próprios moradores, sendo este o principal fator de motivação, além de incentivar a autonomia da comunidade em gerir o próprio espaço. A educação ambiental não vai determinar quais produtos uma pessoa pode ou não consumir, mas vai dar conhecimento crítico para que cada um possa refletir dentro da sua realidade. Se alguém decidir continuar comprando seu refrigerante, essa pessoa irá conhecer opções do que fazer com a garrafa, ou poderá até mesmo decidir reduzir a frequência de compra, substituir por outra bebida, etc.

Por sua vez, a reciclagem e o reúso de embalagens e materiais dão origem a diversas soluções criativas, pois muita gente nas comunidades tem sua fonte de renda nas atividades que ressignificam aquilo que iria parar no lixo. A reciclagem, em especial, cria postos de trabalho e ajuda a sustentar as famílias mais carentes, pois o trabalho relacionado ao lixo ainda é muito estigmatizado, sendo realizado, em sua maioria, por trabalhadores semi-analfabetos e que não teriam chance no mercado formal. Através da reciclagem, essas pessoas experimentam a inclusão social e econômica, e uma mudança de vida radical.


Isso mostra que as carências que existem na periferia não são, de modo algum, excludentes da pauta ambiental, e sim transversais, especialmente se olharmos para o contexto ambiental e urbano em que cada favela está inserida, mais ou menos como um ecossistema.


Como é possível notar, atitudes que atualmente são imprescindíveis quando se fala em sustentabilidade surgem naturalmente dentro das favelas a partir de outros vieses que não o alarmismo, medo ou culpa com relação ao meio ambiente e o futuro. Esses projetos são exemplos de mobilização inclusiva que colocam a favela num lugar de protagonismo e empoderamento, de onde ela não pode ser excluída se quisermos uma vida sustentável para todos e um planeta para todos, cuidado por todos. É importante adotar uma abordagem que considere a favela, tanto população quanto espaço, como uma potência capaz de agregar às pautas e à luta pelo meio ambiente. Que acredite na educação como instrumento de emancipação e autonomia, ao invés de uma forma de tutela.



 
 
 

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