Compensação ambiental no Vale do Anhangabaú
- majutavares
- 7 de ago. de 2020
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A Prefeitura de São Paulo disse nesta terça-feira (4) que replantou 480 árvores no Vale do Anhangabaú. A falta de verde é uma das principais críticas da população sobre o novo espaço.
De acordo como secretário municipal de Desenvolvimento Urbano, Fernando Chucre, foi feito um plano de remanejamento das árvores e só foram cortadas as árvores exóticas.
O Vale do Anhangabaú foi interditado em maio do ano passado para o início de uma obra que estava orçada em R$ 80 milhões, mas recebeu um aditivo de R$ 14 milhões para adequar o projeto. A previsão inicial era terminar a obra em junho deste ano, mas ainda falta 30% da obra terminar e a nova data é setembro.
“Toda a vegetação nativa foi transplantada nas ruas do entorno do Vale do Anhangabaú e no total vai ter um aumento no número de árvores no final desse projeto que vão crescer”, afirmou Chucre.
Segundo o secretário, estão aumentando o número de árvores de médio e grande porte no local.
“Essas árvores ainda não floresceram e isso gera a sensação de aridez, mas o verde será recuperado ao longo dos próximos anos. Em número absoluto estamos aumentando o número de árvores. As árvores plantadas no entorno já têm um tamanho razoável, como estamos no inverno elas estão sem folha, mas no ano que vem deve mudar essa sensação de aridez que temos nesse momento do projeto.”
De acordo com botânico Ricardo Cardim, o problema é que essas arvores vão demorar muito para crescer e a falta de árvores pode acabar criando uma ilha de calor.
“Eu acho que o projeto não levou em consideração a necessidade de serviços ambientais que São Paulo tanto precisa. Hoje a gente tem evidências cientificas que mostram a importância da vegetação para a qualidade de vida e saúde das pessoas. O centro da cidade é uma ilha de calor, um local muito quente justamente pela falta de vegetação. então, a proposta cria uma esplanada árida de cerca de 15 mil m2 que vai do Viaduto do Chá até o Viaduto Sta Ifigênia, com vegetação na lateral mas com um grande espaço de uma laje que vai absorver calor e com certeza piorar a questão da ilha de calor urbana ali“, afirma
A Prefeitura diz que está plantando mais árvores do que o projeto anterior e que, em breve, o Anhangabaú vai voltar a ficar verde. Mas esse processo, segundo o biólogo, pode levar décadas e ainda assim não seriam suficientes.
“Quando a gente troca árvores antigas por árvores novas a gente vai esperar décadas para ter os mesmo serviços ambientais das árvores antigas que desapareceram*. A questão*- é que o novo Anhangabaú vai ter 480 arvores nas laterais, deixando uma grande ilha de concreto como uma esplanda entre os viadutos. Se você dividir 480 árvores pelos 40 mil m2 que tem o Anhagabaú, é uma árvore a cada 80 m2, é pouco", afirma Cardim.
Comerciantes prejudicados
O comerciante José Armando Nascigrand é um dos que reclama das mudanças.
"Eu estou praticamente sem contato com o público, porque não tem acesso nem pela Conselheiro Crispiniano nem pelo Vale do Anhangabaú. O pessoal está transitando muito pouco, nem 10% do que se passava antigamente num dos maiores pontos de São Paulo", afirma.
De acordo com Nascigrand, os caminhões da obra afastam a população e não há acesso a esse calçadão.
"Estou devendo, igual muita gente. Folha de pagamento atrasada, imposto tá atrasado... Água tá atrasada. Luz também, eu tô com medo que corte. Fiquei sem dinheiro pra... Não tô tendo vendas, como é que eu posso apurar alguma coisa pra pagar essas despesas? Eu tô me sentindo lesado, pô! Eu pago IPTU, taxa de conservação do passeio e o passeio todo detonado, igual eu mandei umas fotos pra vocês. É coisa de maluco, pô!"
Chucre diz que os comerciantes precisam ter paciência porque as obras acabam em setembro e que os tapumes prejudicaram os comerciantes porque as pessoas passaram a usar o Viaduto do Chá e o Viaduto Santa Ifigênia.
Ele também informou que a Prefeitura está aberta para conversar sobre uma medida de compensação do Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) pago no período.
'Novo conceito'
Para Chucre, os atrasos em obras públicas são de praxe, mas a pandemia de Covid-19 trouxe complicações para a obra no Vale do Anhangabaú.
“Uma série de medidas foram tomadas por questão de segurança dos funcionários acabou adiando a obra de junho para setembro”, afirma.
De acordo com o secretário, a expectativa é de melhora da atividade econômica como gastronomia e cultura no entorno do Vale do Anhangabaú fazendo uso de edifícios fechados e desocupados.
“O conceito do projeto foi feito considerando a movimentação e o fluxo das pessoas no entorno, que conta com pontos importantes como o Theatro Municipal e estações de metrô.”
As fontes do projeto foram desenhadas para recuperar a história do local. Havia um no local rio no século XVIII e XIX. O espaço ganhará quiosques, pistas de skate, marquises verdes e fontes de água, além do plantio de mais de 480 árvores.
"Fizemos uma mudança de conceito no projeto, que originalmente era um local de passagem, mas agora será um espaço de permanência, inclusive com uma série de quiosques e equipamentos previstos pra viabilizar o uso do espaço também no período noturno”, afirma.
O escritório responsável pelo projeto (Biselli Katchborian Arquitetos), lançou uma nota via seu perfil no instragram sobre toda repercussão de imagens do local, alegando que uma análise prematura compromete o projeto, convidando a todos reavaliarem as criticas em setembro quando o Vale for reinaugurado. Todavia, ainda questiono a gestão atual se isso justifica todo o capital investido tendo uma infinidade de problemas urbanos e ambientais na cidade de São Paulo muito mais emergentes e caóticos. Sobre o projeto, na minha opinião como Arquiteto e Urbanista, acredito que as carências do Vale seriam resolvidas com a requalificação das áreas deterioradas, melhoramento da iluminação e equipamentos, focando a preocupação em manter uma identidade e memória do local, afinal como já dizia o…