Chernobyl
- majutavares
- 26 de jun. de 2019
- 5 min de leitura
Um ser humano adulto pode suportar uma dose máxima de 500 roentgens. Nas proximidades do acidente radioativo de Chernobyl, os níveis de radiação chegaram a 20.000 roentgens por hora.
A região de Chernobyl deverá permanecer inabitada por até 20 mil anos até que se torne segura para a habitação humana. Apesar disso, existem evidências que apontam que algumas pessoas voltaram a morar na chamada “zona de exclusão”.
História:
O acidente de Chernobyl,o maior acidente nuclear da história, aconteceu em 26 de abril de 1986, quando o reator 4 da usina nuclear V. I. Lenin, localizada na cidade de Pripyat, a cerca de 20 km da cidade de Chernobyl, explodiu e lançou material radioativo na atmosfera.
Esse acidente foi resultado de falha humana devido descumprimento de protocolos de segurança e devido um grave erro no seu projeto, o qual permitiu que o acidente acontecesse.
Tudo ocorreu durante um teste de segurança que estava em curso e resultou na explosão do reator 4. O teste consistia em determinar quanto tempo as turbinas eram capazes de girar após uma queda abrupta de energia. O teste em questão já havia sido executado no ano anterior. Com a explosão, dois trabalhadores da usina foram mortos e, na sequência, um incêndio no reator 4 iniciou-se e estendeu-se durante dias. A pressão produzida pela água do reator foi tão grande que fez soltar a placa de cobertura do reator, que pesava nada menos que 1000 toneladas. A explosão deixou o reator nuclear exposto, e o incêndio foi responsável por jogar na atmosfera uma elevada quantidade de material radioativo, como iodo-131, césio-137 e estrôncio-90. O maior problema foi o césio-137, cuja meia-vida leva mais de 30 anos (a precipitação do pó de césio-137 na atmosfera tornou a região de Chernobyl inabitável por um tempo que varia entre 3.000 e 20.000 anos).
Em seguida, o vento levou o material radioativo lançado na atmosfera principalmente para o oeste e norte de Pripyat, e a radiação espalhou-se pelo mundo. Rapidamente, foram identificados altos níveis de radiação em locais como Polônia, Áustria, Suécia, Bielorrússia e até locais muito distantes, como Reino Unido, Estados Unidos e Canadá.
Os primeiros a alertarem a comunidade internacional de que algo havia acontecido na União Soviética foram os suecos. Até então, os soviéticos trataram de esconder o que havia acontecido, temendo os impactos disso para a reputação do país.
Como funcionava a usina:
A usina de Chernobyl era equipada com quatro reatores nucleares RBMK-1000, construídos entre 1970 e 1977, capazes de gerar cerca de 1000 MW de energia elétrica cada, produzidos por uma tecnologia ultrapassada, criada cerca de 30 anos antes da data do acidente- além das peculiaridades dos reatores que utilizam a grafite como moderador, os reatores careciam de um dispositivo de segurança crucial para evitar o vazamento de material nuclear: uma cúpula de contenção de aço e concreto.
O que foi feito para conter o incidente:
Incêndio
Logo depois da explosão do reator 4, os bombeiros de Pripyat foram convocados para apagar o incêndio. Cerca de 300 toneladas de água foram usadas por hora para abaixar a temperatura do reator. Como o trabalho dos bombeiros não trouxe resultados, decidiu-se jogar materiais para conter o incêndio e diminuir a dispersão do material radioativo. Entre o segundo e o décimo dia, com a ajuda de helicópteros, foram despejadas cerca de 5000 toneladas de boro, dolomita, areia, argila e chumbo sobre o reator incandescente, como uma tentativa de cessar a emissão de partículas radioativas.
Evacuação da população
Apesar da gravidade do acidente, a população de Pripyat só começou a ser evacuada 36 horas depois da explosão. A cidade, localizada no norte da atual Ucrânia, contava na época com cerca de 50 mil habitantes, que foram evacuados em 1200 ônibus enviados pelo governo soviético. A população da cidade foi orientada a não levar seus pertences e foi informada de que se tratava de uma evacuação temporária.
Além disso, o governo soviético criou uma zona de exclusão de 30km de distância da usina, a qual incluía locais que apresentavam alto risco para a presença humana.
Trabalhadores que acompanhavam a radiação
Por conta do acidente, foram acionados os chamados “liquidadores” que realizaram diferentes tipos de trabalho, alguns trabalhavam acompanhando os níveis de radiação, mas existiam também aqueles responsáveis em conter a emissão, fazer a limpeza da cidade, enterrar objetos contaminados, matar animais, realizar a evacuação da população, revirar o solo etc. Muitos deles não sabiam do risco que corriam com o trabalho que realizavam, mas eram incentivados pelo patriotismo e pelos benefícios oferecidos pelo governo soviético. Os que trabalharam na limpeza do teto da usina ficaram conhecidos como “biorrobôs”.
Sarcófago
O trabalho de contenção do material radioativo contou com a construção de uma estrutura, o sarcófago de Chernobyl e foi construída entre junho e novembro de 1986.
Em novembro de 2016, uma nova estrutura metálica foi construída pelo governo ucraniano. O novo sarcófago, que custou mais de dois bilhões de euros, foi construído para suportar terremotos de baixa intensidade e projetado para funcionar até o final do século XXI. Ele possui cerca de 7.300 toneladas de metal e 1000 m3 de cimento.

Consequências:
Questões ambientais
Acredita-se que de 13% a 30% do material radioativo do reator 4 tenha sido lançado na atmosfera e, desse material, cerca de 60% dele concentrou-se no território da Bielorrússia; 23% do território bielorrusso foi contaminado e, com isso, o país perdeu cerca de 264 mil hectares de terras cultiváveis por conta da radiação. Além disso, ¼ das florestas bielorrussas foram contaminadas e, atualmente, entre um e dois milhões de pessoas vivem em território contaminado. No caso da Ucrânia, 7% de seu território foi afetado; no caso do território russo, 1,5% foi atingido.
A cidade de Pripyat, local no qual estava a instalação, foi abandonada e hoje é uma cidade-fantasma. Passados mais de trinta anos do acidente, as imagens mostram que a natureza retomou seu espaço na cidade abandonada. Existem evidências que apontam que a quantidade de animais presentes na zona de exclusão aumentou consideravelmente por causa da pequena presença humana.
Questões de saúde
Novos estudos apontaram que a incidência de câncer de tireoide em crianças aumentou 40 vezes desde a explosão; em adultos, a taxa aumentou em até 7 vezes. Além das doenças, o impacto psicológico do acidente foi gigantesco sobre milhares de pessoas que perderam tudo repentinamente e foram obrigadas a abandonar suas vidas.
Milhares de pessoas que estiveram em contato com a radiação foram beneficiadas com compensações disponibilizadas pelos governos dos países afetados e hoje recebem pensão especial, ou foram aposentadas por invalidez, ou recebem tratamento médico especial etc.
Até hoje não se sabe a quantidade de pessoas que morreram por conta do acidente de Chernobyl.
Responsáveis:
Logo após a explosão, o governo soviético organizou uma comissão para descobrir as causas do acidente. Um julgamento foi realizado e seis pessoas foram julgadas pelo acidente. Dessas, três foram condenadas a dez anos de prisão: Viktor Bryukhanov, Nikolai Fomin e Anatoly Dyatlov.

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